22/01/2020

Perspectivas

Calçadistas estimam crescer até 2,5% em 2020

Número deve ser puxado pelo desempenho no mercado interno, que absorve mais de 85% da produção


A coletiva de imprensa realizada pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) durante a Couromoda 2020 trouxe para a pauta temas que fizeram parte do ano de 2019 e também os que devem influenciar o desempenho da atividade ao longo de 2020. Participaram o presidente do Conselho Deliberativo e o presidente-executivo da entidade calçadista, Caetano Bianco Neto e Haroldo Ferreira, respectivamente. 

Para Neto, existe um “otimismo moderado” para 2020. “Em 2019, tínhamos expectativas muito positivas, mas o atraso de reformas estruturais importantes, caso da Previdência, acabou frustrando um pouco. O fato é que, para não ter que rever a estimativa de crescimento, ainda mais para baixo, estamos sendo um pouco mais conservadores nas projeções”, disse, e brincou: melhor estourar a meta do que dizer que não a alcançamos. No início de 2019, a meta de crescimento do setor chegava a 3,4%, número que foi revisto para entre 1,1% e 1,8% no último trimestre do ano. “Não foi um ano ruim, mas poderia ter sido melhor. O certo é que parou de piorar”, afirmou, ressaltando que a confiança, tanto do mercado quanto do consumidor, segue em elevação com o novo momento econômico brasileiro.

Para Ferreira, comportamento das exportações foi determinante para que 2019 se mantivesse em crescimento. “O mercado externo puxou as exportações, especialmente em função do aumento dos embarques para os Estados Unidos, resultado direto da guerra comercial instalada entre o país norte-americano e a China”, avaliou, ressaltando que no período, em função das sobretaxas às importações da China, os compradores norte-americanos buscaram calçados em países alternativos ao gigante asiático,  favorecendo o Brasil, maior produto de calçados do Ocidente. Em 2019, os embarques cresceram 0,9% em volume e registraram queda de o,9% em receita no comparativo com 2018. “Porém, em função do dólar valorizado ao longo do ano, tivemos um incremento de 7% e reais, um resultado positivo importante”, acrescentou. Entre janeiro e dezembro do ano passado, foram embarcados ao exterior 114 milhões de pares por US$ 967 milhões. 

Expectativas


Para 2020, o setor espera crescer entre 2% e 2,5%. Porém, diferentemente do ano passado, esse número deve ser puxado pelo desempenho no mercado interno, que absorve mais de 85% da produção de calçados (de mais de 950 milhões de pares por ano). Já no mercado externo, a percepção é de que Estados e China estão “se acertando” e que o setor de calçados deve retornar aos patamares anteriores de embarques para o país norte-americano, historicamente o principal destino do calçado brasileiro além-fronteiras. 

Outro fator que deve seguir prejudicando o desempenho no mercado internacional é a crise da Argentina e o retorno da onda protecionista que parece ter invadido a praia dos hermanos. No último dia 10 de janeiro, entrou em vigor um decreto do governo argentino que alterou o prazo das licenças não automáticas para importação de uma série de produtos brasileiros, entre eles calçados. A partir da data, são 90 dias, não mais 180 dias, o prazo de autorização para a entrada do produto naquele país, isso após o preenchimento do chamado SIMI, um sistema de monitoramento de importações exigido pelo governo  local. “É mais um complicador para as exportações de calçados, mas não chega a ser surpresa, pois quando assumiu o novo governo, de viés mais protecionista, sabíamos que poderiam voltar essas dificuldades”, disse Ferreira. Atualmente, a Argentina é o segundo destino do calçado brasileiro no exterior e, portanto, tem um impacto significativo na balança comercial do setor. 

A melhor projeção, para os calçadistas, está no mercado doméstico, que parece começar a reagir, depois de anos de demanda reprimida. “Acreditamos que o incremento das vendas no mercado doméstico deva impulsionar o resultado de 2020”, frisou o executivo, que também saudou medidas como a redução do ICMS para calçados nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, alguns dos maiores produtores do segmento no Brasil. “O fato também terá impacto importante na competitividade do calçado desses dois estados”, comemorou Ferreira.