Entrevistas  18/05/2022 | Por: Pedro Damian

Entrevista

Renato Basile e Rodriggo Basile

Renato (esq), fundador da Basile Química e Rodriggo, diretor de operações.


“Sempre procuramos pensar de forma diferente,  atendendo ainda melhor o cliente.”

Renato Basile, fundador da Basile Química e Rodriggo Basile, diretor de operações, receberam Borracha Atual na sede da empresa, em São Paulo, e explicaram a origem da sua indústria, como se desenvolveu a ponto de se tornar um dos mais importantes players dentro do segmento de produtos químicos no país, analisaram o mercado em geral e as perspectivas de crescimento para este e para os próximos anos, além de contarem as boas novidades que vêm por aí.

BORRACHA ATUAL: Como surgiu a empresa?
RENATO BASILE
: A Basile Química foi fundada em 1988, a princípio fabricando sais minerais para alimentação animal. A Basile Química foi fundada por mim. Meu pai veio da área da borracha, trabalhando mais de 30 anos na Petroflex. Quando começamos a comercializar produtos químicos, ele já tinha esse pé dentro do mercado da borracha e acabamos agregando dentro do nosso negócio a parte de produtos químicos para borracha também. A parte agrícola ficou um pouco em segundo plano, enquanto cresceu a parte da borracha. Faremos 34 anos de empresa e mais de 30 deles dentro do negócio da borracha. 

Qual foi o papel de seu pai na fundação da empresa?
Renato: Como ele tinha um conhecimento muito grande na área da borracha, e começamos a migrar mais para a linha dos produtos químicos do que para a área agrícola, optamos por desenvolver um pouco mais os químicos. Foi uma tendência natural. O mercado começou a nos direcionar para a área da borracha. O conhecimento do Sr. Basile nessa área foi fundamental para que a Basile Química tendesse para esse lado. Seu papel foi crucial para a formação da empresa para o que ela é hoje. Até hoje nos inspiramos com o nosso “guru”. 

Quais foram os desafios iniciais nessa empreitada?
Renato: Há 30 anos o mercado era bem diferente. Era mais promissor e mais fácil de entrar do que é hoje. Sempre tivemos concorrência, mas o perfil do mercado era diferente. Hoje os desafios são maiores, mas a regra nunca muda: trabalho, qualidade, perseverança e pensar sempre no cliente. O início da Basile foi fruto de muito trabalho,  bons relacionamentos, aliados a uma questão técnica dos produtos, onde entrei com os materiais. Uma parceria que deu muito certo no início. Os maiores desafios foram na parte técnica do novo negócio. No Brasil é difícil empreender. Sempre foi. Todo início de empresa é um desafio para qualquer empreendedor quando começa um negócio novo. 

Os relacionamentos são importantes para o negócio? 
Renato: Sempre são importantes. O negócio não sai do papel se não tiver um bom relacionamento, um networking de qualidade que consiga promover seu negócio. Relacionamento sempre foi fundamental e sempre será. Apesar de estarmos em uma era digital onde as pessoas estão mais distantes, o relacionamento continua sendo fundamental. O cliente é a razão de estarmos abertos.

Qual é a atual estrutura da empresa?
Renato: Hoje estamos no km 18 da Rodovia Anhanguera em uma área de 11 mil metros com aproximadamente cinco mil metros de construção. A Basile tem hoje 95 funcionários, frota própria com 12 caminhões com compromisso de entrega em 24 horas em toda a grande São Paulo. Possuímos dois laboratórios, um de análises químicas, e acabamos de implantar um segundo laboratório para borracha, que inclusive está à disposição de nossos clientes. Temos um técnico que dá assistência gratuita aos clientes, sugerindo formulação, layout de fábrica, dúvidas com produto e até seu uso. 

A Basile Química é uma empresa familiar?
Renato: Sim. Fundei a empresa em 1988, mas sempre com o Sr. Basile do meu lado. Hoje a segunda geração está tocando o negócio da borracha, enquanto o Rodriggo, que já é a terceira geração está encaminhado, pegando o negócio e agregando novas práticas e as novas tecnologias para estarmos sempre atualizados.

Qual é a diferença entre estas gerações? 
RODRIGGO BASILE: Costumamos dizer por aqui que a primeira geração é responsável historicamente por manter o carro andando e a segunda vem para trocar a roda por uma melhor com o carro em movimento. Obviamente somos engenheiros. Eu sou engenheiro de produção e venho trazendo algumas práticas mais atuais, tecnologias mais novas, uma pegada muito forte de indústria 4.0, automações, sistemas, softwares, melhores práticas de produção e gestão, aliado a quem tem 35 anos de carreira empresarial, conseguimos ter uma sinergia muito grande e fazemos um mais um virar três. Esse é o segredo de nossa gestão.

“Apesar de estarmos em uma era digital onde as pessoas estão mais distantes, o relacionamento continua sendo fundamental. O cliente é a razão de estarmos abertos.”

A evolução de uma empresa passa pela gestão dos materiais?
Rodriggo
: Esse fato, com certeza, mas o nosso grande aprendizado com a modernização da gestão é entender que podemos ter a melhor matéria-prima do mundo, a melhor fabricação do mundo, mas se não tivermos a melhor equipe, não conseguiremos ser lideres. O foco atual da gestão é conseguir montar as melhores equipes, os melhores profissionais para podermos desenvolver as melhores tecnologias, os melhores atendimentos possíveis, sempre com foco no cliente. Se você não tem um bom RH (Recursos Humanos), uma boa estruturação de talentos, você não consegue desenvolver nada. É esse talento brasileiro que nos distingue perante o resto do mundo, essa habilidade de conseguir agir independente das circunstâncias.
Renato: O brasileiro tem um talento natural para as adversidades.

“Conseguimos ter uma sinergia muito grande e fazemos um mais um virar três. Esse é o segredo de nossa gestão.”

Quais os principais mercados atendidos pela Basile Química?
Renato
: O principal mercado é o da borracha. Aproximadamente 70% da Basile ainda é o mercado da borracha, mas também atuamos nos mercados de tintas, de plásticos, de asfaltos e de adesivos.

No mercado de borracha há um segmento mais preponderante?
Renato
: O forte sempre são as autopeças, que são os grandes consumidores de borracha. Mas não podemos descartar o mercado de solados e os artefatos técnicos. Quando falamos de volume de material, o destaque fica com as autopeças. Após as autopeças, o mercado de calçados é o segundo mais significativo.

Qual o mercado de atuação da empresa?
Renato
: Atuamos no Brasil inteiro. No mercado de São Paulo atuamos diretamente com visitas partindo do escritório. No Rio Grande do Sul, temos um funcionário que atende todo aquele estado e também Santa Catarina. Já em Minas Gerais fazemos as visitas partindo de São Paulo mesmo. Não trabalhamos com representantes ou distribuidores, mas sim com atuação direta.

Pretendem fazer investimentos em um futuro próximo?
Renato: Sim. Inclusive em uma planta nova porque, como a nossa tendência é sempre reforçar o lado fabril, entendemos que nossa área atual, apesar de grande, já está ficando pequena. Já temos projeto de adquirir uma nova área para a instalação do novo parque fabril. Sempre procuramos pensar de forma diferente para atender melhor o cliente. Trouxemos novos produtos como desmoldantes, antiaderentes, dessecantes e agora a nova linha de másteres, que está ampliando as linhas de produção da nossa fábrica.

Onde será esta expansão?
Rodriggo
: Será em São Paulo. Entendemos que a nossa localização é extremamente privilegiada e estratégica para a operação. Temos os melhores acessos para as principais rodovias de São Paulo e a ideia é continuar por aqui. 
Renato: O pessoal do interior gosta muito de passar por aqui. É uma facilidade, porque nem precisa entrar em São Paulo. É perto do Rodoanel também... Muitas vezes os transportadores deixam para o final da tarde coletar na Basile porque já saem para o interior ou para o sul. O ponto aqui é bem estratégico.

Planejam atuar no exterior?
Renato
: Hoje exportamos alguns produtos para a Argentina e para a Bolívia. Temos que incrementar esse processo e a melhor forma de fazer isso é com produtos fabricados por nós mesmos. Fazemos másteres de todos os pós de aceleradores, de enxofre, dessecante e óxido de zinco. Principalmente nestas linhas, temos a intenção de nomear distribuidores e representantes na América Latina, pois na América Central há uma carência muito grande no fornecimento de produtos.

Seus produtos são competitivos nas Américas?
Renato
: Acredito que sim porque hoje existe exportação de aceleradores em pó para a Argentina, onde algumas empresas locais já fazem esta importação. A distância seria um complicador, mas quando os produtos são fabricados por nós mesmos, adquirimos uma vantagem em cima do produto local. E são esses produtos que pretendemos distribuir para a América Latina. 
Rodriggo: Com produtos mais “comoditizados” temos uma menor capacidade de competição e custo. Quando entramos nas especialidades, o valor agregado é maior, bem como a tecnologia embarcada e então conseguimos ter mais competitividade. 

Especialidade é a solução frente aos chineses?
Renato
: Com certeza e estamos focados nisso. Somente revender um produto químico é muito simples. O nosso diferencial em relação aos concorrentes atuais e aos que surgirão é o serviço agregado, o valor agregado ao produto. Nosso valor agrega uma frota com condições de atender o cliente até no máximo 24 horas na região de São Paulo. No máximo no dia seguinte o produto já estará na fábrica do cliente. Esse é um compromisso da Basile Química com o monitoramento mensal interno das entregas, onde é avaliada a quantidade de entregas realizadas, se houve atrasos. É compromisso nosso. Todos já sabem: “liga na Basile que chega amanhã”.

Assim o cliente não precisa manter estoque?
Renato
: Não. O estoque é nosso. 
Rodriggo: Um dos diferenciais competitivos do nosso serviço é que conseguimos tirar esse estoque de dentro do cliente, ajudando as empresas menores que não precisam dispor de muito caixa para manter a matéria-prima dentro de seu galpão. E tem a questão do crédito. Entendemos a dificuldade do pequeno empresário em conseguir crédito, ainda mais em um país com a mais alta taxa de juros do mundo. Entendemos que temos o dever de disponibilizar estoque e crédito para que ele possa se desenvolver. 

Qual é o perfil de seu cliente?
Renato
: Principalmente as empresas pequenas e médias, enquanto as grandes geralmente fazem cotação direta e têm mais condições financeiras.

A produção brasileira atende à demanda do mercado?
Renato
: Grande parte da linha dos produtos que produzimos ou comercializamos não é suficiente. Nosso ponto forte são os aceleradores de vulcanização, para os quais não existe fabricante nacional, sendo 100% importado. Óleos plastificantes (somos distribuidores da Petrobras) também não atende todo o mercado. Hoje a Petrobras produz 50% do que é consumido no Brasil. Os outros 50% são importados por ela mesma e também por outros players independentes, após a queda do monopólio que permitiu a importação de derivados de petróleo livremente.

O problema é de refino da produção?
Renato
: O grande problema da parte dos óleos é de refino mesmo. Hoje o Brasil é muito carente em refinarias. Passamos 20 anos sem ter investimentos significativos em refino, afetando muito o desempenho da Petrobras que decidiu focar em exploração de petróleo e vender suas refinarias. O Brasil continua um grande explorador de petróleo, mas no refino ainda deixa muito a desejar. 
Rodriggo: Voltamos àquela matriz onde tudo é comoditizado, que tem escala, mas pouco valor agregado. Então para termos competitividade nas exportações teremos que ter tecnologia agregada nos processos, como o refino, que é um nível acima. Estamos perdendo essa competitividade. O Brasil, apesar de ser muito grande e ter todo o setor agro e as commodities, precisará se especializar em tecnologias industriais.

O que falta para o Brasil dar esse salto?
Renato
: Começar pela base: educação, ensino técnico... Hoje o Brasil tem uma carência muito grande de técnicos... 
Rodriggo: O País forma muito poucos engenheiros para a demanda que tem. E os engenheiros de ponta não ficam no Brasil, são “roubados” pelo mercado exterior, que tem propostas mais atrativas. Hoje o talento brasileiro sai do País e não conseguiremos virar esse quadro sem reter esses talentos aqui dentro. 
Renato: Em nosso setor de borracha vemos o quanto é carente. Sentimos essa dificuldade pelo desenvolvimento de novos produtos que tentamos fazer nas fábricas. Por isso, tentamos suprir essa carência com um corpo técnico que dá assistência gratuita aos clientes para facilitar nossas vendas, na verdade. 
Rodriggo: E disponibilizamos nossa infra-estrutura de laboratórios para que os clientes tenham toda essa parte de maquinário para realizar os testes do seu produto com os nossos produtos vendidos.

“Hoje o talento brasileiro sai do País e não conseguiremos virar esse quadro sem reter esses talentos aqui dentro.”

Como a empresa vê o mercado latino-americano?
Renato
: O Brasil tem um mercado altamente promissor e trabalhamos acreditando que o país vai continuar crescendo.
Rodriggo: Tendo uma liderança política que acredite no empresário brasileiro e no desenvolvimento do setor industrial que é o que empurra o nosso país. Apostamos nisso.
Renato: Acreditamos que o Brasil vai continuar nessa pegada de favorecer o empresário para ele empreender, permitindo ao governo arrecadar impostos e a população ter emprego. A América do Sul me preocupa um pouco e alguns países deverão crescer menos do que o Brasil. Argentina e Chile são os outros dois países mais fortes que estão enfrentando problemas econômicos graves, enquanto a Colômbia é um mercado que deverá continuar na mesma linha de crescimento atual.
Rodriggo: Nas últimas eleições alguns países latino-americanos elegeram governantes com uma ênfase maior na parte social e política em detrimento da parte econômica. 

A pandemia e a logística afetaram a produção da empresa?
Renato
: Sim. Pela disponibilidade de produto. Muito material nosso vem da China e a pandemia lá limitou a produção. E a questão logística foi pior. Os fretes, os armadores elevaram os custos. Um frete que pagávamos entre US$ 1.500,00 a US$ 2.000,00, no máximo por container, atingiu a cifra de US$ 14 mil. Isso encareceu alguns produtos que trabalhávamos com valor muito baixo, tornando inviável sua importação, devido ao frete, que passou a custar duas vezes mais que o produto. Hoje o cenário melhorou. Já temos fretes de US$ 5 mil a US$ 6 mil dólares. Já começa a compensar importar os materiais novamente, mas os produtos de valor mais alto que trazemos, tivemos problema pela falta de disponibilidade do fabricante e pela problemática de pandemia no país deles. Em 2022, a situação já está quase normalizada e conseguimos comprar e importar material.

A China continua sendo a “Meca” dos produtos químicos para importação?
Renato
: Ainda continua, mas já há outros países viáveis como a Índia, por exemplo, que já se mostra como candidata à nova “Meca”. Alguns materiais já são indianos e podemos dizer que a Índia é hoje o que a China foi há 20 anos. Chegará o tempo em que a Índia concorrerá com a China.

A guerra entre Ucrânia e Rússia, além de uma parceria com a China, pode impactar o mercado de borracha?
Renato
: A Rússia sempre foi um parceiro muito forte da China e não vejo como isso possa impactar. Não vejo dificuldades para nós por causa dessa parceria, imaginando que essa guerra será passageira.
Rodriggo: Apenas uma instabilidade em curto prazo, enquanto em longo prazo a situação tende a se normalizar. 

A conjuntura econômica e tributária brasileira dificulta o ambiente de negócios no país?
Renato
: Sempre dificultou e isso é histórico. Brincamos que é difícil o governo ajudar. Quando batem à sua porta e é o governo, ninguém sorri, porque nunca é para apoiar. Tivemos há alguns anos uma reforma trabalhista simplória que ajudou um pouco. O que realmente faz falta é uma reforma tributária. Neste ano teremos eleição e ninguém mexerá nisso. Talvez no próximo governo, caso continue o atual, porque se mudar, a reforma trabalhista que virá poderá ser pior ainda e até acontecer um retrocesso.

A diminuição da informalidade pode colaborar com a reforma tributária?
Renato
: Com certeza. 
Rodriggo: É uma via de mão dupla. Entendemos que cada vez mais que a formalidade e o respeito às leis do país se tornam padrão de mercado, teremos mais gente esperando e buscando que nossos governantes atendam às expectativas de melhoria do cenário econômico-tributário para a continuação do desenvolvimento da indústria nacional. 
Renato: O objetivo do empresário é crescer e o papel do governo é criar um ambiente favorável para que as empresas possam prosperar. O que está faltando hoje é a reforma tributária. Hoje custa caro pagar os impostos em dia e para as empresas é muito caro pagar os impostos direito. O empresário tem que ser um herói.

“O que está faltando é a reforma tributária.  Hoje custa caro pagar os impostos em dia.”

Quais são os seus diferenciais em relação à concorrência?
Rodriggo
: Nossos principais diferenciais vêm do valor agregado de entregar um serviço de qualidade excepcional, não só um produto como todos os outros. Entendemos que o nosso cliente, por ser de um mercado de pequenas e médias empresas, não vai ter a capacidade que temos de controlar qualidade, melhorar o seu processo e desenvolver inovações como nós temos e cabe a nós, através de nossos produtos, embutir esse serviço, essa inovação para promover a expansão do mercado em que atuamos.

A demanda dos clientes por serviços é grande?
Rodriggo
: Sim. Entender suas necessidades sempre fez parte de nosso DNA. Desenvolvimento de produtos para solucionar problemas. Onde historicamente o Renato é o grande formulador desses produtos e ao agregar serviços e valor, também atendemos necessidades do pequeno cliente que não consegue importar um container para ter um valor competitivo. Fazemos esse trabalho e conseguimos atender uma gama de clientes que têm essa mesma necessidade. Isso é parte de nosso negócio hoje. 
Renato: A maioria de nossos produtos fabricados veio da necessidade dos clientes, como foi o exemplo de um antiblock para mantas, onde o problema era a poeira dentro da fábrica. Desenvolvemos um produto à base de água para que o cliente não tivesse aquela sujeira. Fizemos um trabalho interno para suprir e fornecer este produto que deu tão certo que acabou disseminando para o mercado.

Os novos produtos são desenvolvidos internamente? 
Renato
: Normalmente os novos produtos são desenvolvidos por nós mesmos, internamente. Isso explica a necessidade de termos um segundo laboratório. 
Rodriggo: Temos um grupo técnico bem parrudo para que possamos desenvolver internamente essas tecnologias. Entendemos que, ainda mais devido a essa falta de mão de obra especializada no mercado e parcerias fortes com universidades e institutos técnicos, como somos carentes nessa área, temos que nos estruturar, desenvolver tecnologias de ponta e inovações. Hoje trazemos isso para dentro do negócio. 

“Estamos perdendo o pessoal que detém o conhecimento técnico em nosso setor e não estamos repondo em uma velocidade que permita a expansão do crescimento.”

Como está a formação de mão de obra qualificada no Brasil? 
Rodriggo
: Muito deficitária. Entendemos que o mercado é carente como um todo, não só no setor de borrachas, e disso advém a nossa ênfase em ter toda a tecnologia e capacitação técnica dentro de nosso quadro para desenvolvermos tudo o que precisamos. Estamos perdendo o pessoal que detém o conhecimento técnico em nosso setor e não estamos repondo em uma velocidade que permita a expansão do crescimento.
Renato: Empresas maiores têm a possibilidade de pagar um técnico um pouco mais caro. Mas as empresas de pequeno porte sofrem com isso. Não têm esse apoio técnico, o  que é muito preocupante, até porque ela não consegue importar técnicos. Todo mundo está fazendo a lição de casa, retendo o seu técnico. A parte técnica é um cenário sombrio para o futuro do Brasil.

A competição externa é forte em seu mercado?
Renato
: Não temos nada muito complicado. Muito pouco. 

Existem políticas ambientais implantadas na Basile Química?
Rodriggo
: Entendemos que, com as melhores práticas citadas anteriormente, cada vez mais o ESG (Environmental Social and Governance), aquela sigla bonita, é mais importante para o mercado e é uma tendência que não tem mais volta. Então, para entrar e apoiar esse movimento, pensamos em soluções que atendam às demandas dessas questões sociais e ambientais. Hoje a Basile Química tem algumas medidas tomadas para contribuir com isso. Já trabalhamos com retorno de embalagem, pois entendemos que uma das maiores áreas de produção de resíduos, pelo menos em nossa operação, é a parte de embalagem. Trabalhamos com contêineres e tambores retornáveis, alguns produtos de base sólida que não são os nossos óleos e temos o retorno de barricas de papelão que são produtos 100% recicláveis. Além do despejo correto de nossos resíduos industriais. Todos com emissão de CADRI, documentação e homologados por empresas que fazem esse descarte dentro das melhores práticas de mercado. 

Como a economia circular é vista?
Rodriggo
: A economia circular é vital para a empresa. Queremos, além de ser uma referência na parte de inovação e produção, também ser uma referência na parte de sustentabilidade. Entendemos que antigamente os custos de reciclagem e de outros processos para a atuação na área ambiental eram muito maiores porque não detínhamos a tecnologia e nem tantas empresas prestando esse tipo de serviço. Hoje conseguimos fazer praticamente todos os descartes através de parceiros que trabalham de forma auditada e certificada desde os descartes de resíduo industrial de embalagens até a parte eletrônica. 

Quais serão os novos produtos?
Renato
: Falando de novos produtos, sempre temos os projetinhos na gaveta. Nosso projeto atual é a fabricação dos másteres, um investimento maior que está tomando um pouco mais de nosso tempo. São másteres de aceleradores de vulcanização, enxofre, óxido de zinco, dessecante e inibidor de pré-vulcanização. Temos a expectativa de em até três anos estarmos fabricando 50 toneladas mensais desse material.

Qual o futuro desse máster? 
Rodriggo
: Máster será o tópico da Expobor deste ano com a apresentação formal e técnica de toda essa linha que está sendo desenvolvida no próprio estande. E com palestra técnica também. 
Renato: E reforçando a questão da inovação. Vejo duas grandes dificuldades do mercado com os másteres: custo e a própria questão técnica. A grande questão é a variabilidade que passou a ser a nossa preocupação. 

Estes materiais são granulados?
Renato
: Sim. Hoje o padrão de mercado do material são materiais granulados. Teremos material granulado também, ofereceremos da mesma forma. Mas paralelo a isso, lançamos um material no formato de placas pastilhadas. Ele vem quadriculado para o cliente destacar, sendo mais fácil para pesar, onde se destaca o número de tiras que precisa para a massa. Como o material tem uma densidade diferente, não dá para comparar um com outro, mas dá para comparar a facilidade de fazer uma pré-pesagem do material. Quando pegamos aquelas bolinhas do granulado, colocamos na balança, elas correm para tudo quanto é lado e isso é uma vantagem da placa. Outra vantagem dela é o armazenamento. Uma caixa de 25 quilos desse material é menor que uma barrica de granulados. Então o armazenamento é mais fácil. Como temos nosso material muito bem controlado na viscosidade, sua dispersão é super eficiente. 

Como será o uso destas placas?
Renato
: Estamos fazendo um trabalho para apresentar a proporção que o cliente utiliza. Se utilizar 100 gramas de pó, colocará 100 gramas de máster. O material agirá da mesma forma pela excelente dispersão do produto. Uma vantagem: esse é um processo mais simples, mais econômico e chegará ao cliente um produto mais barato. Todo mundo sonha em usar um máster dentro da fábrica, sem pó, com uma dispersão mais rápida sem contaminar o equipamento, nem o colaborador, evitando perda de produto no ar.
Isso beneficia os clientes pequenos?
Renato: Isso é o que estamos fazendo. Proporcionar ao pequeno consumidor que compre um máster praticamente pelo mesmo preço pago em um produto em pó, trazendo todos os benefícios do máster. Assim, tanto o pequeno como o grande consumidor pagarão menos por um produto de qualidade igual, apenas com formato diferente.

“Independentemente do cenário, fazemos a nossa lição de casa  e quando os ventos sopram a nosso favor, conseguimos ter crescimentos ainda mais expressivos.”

Existe um padrão de cor para diferenciar os produtos?
Renato
: Existe um padrão de alguns itens no mercado que vêm em cor diferenciada para facilitar o manuseio. Esse padrão de cores normalmente é para quatro ou cinco produtos e para os outros 15 produtos estamos implantando esse padrão de cor para facilitar a vida do cliente.

Esse padrão de cores é mais uma inovação da Basile? 
Renato
: Sim. Hoje somos o único fabricante que traz material para cá com a sacaria padrão da empresa com cores diferenciadas e desenho diferenciado. Isso evita muitos problemas no cliente. E com o máster estamos fazendo a mesma experiência. Há fabricantes que fazem alguns aceleradores coloridos. Nós fazemos toda a linha de cerca de 20 tipos de aceleradores e cada um com sua própria cor. Isso ajuda a diminuir os erros dentro da fábrica, causando menos perdas e menos prejuízo. 

Poderia descrever como funciona a Qualidade Auditada Basile Química?
Renato
: Temos a preocupação de auditar o produto antes que ele chegue para nós. Na origem, seja na China (eu faço as auditorias quando vou para lá), seja aqui com os fornecedores nacionais, procuramos ter o produto que chegue aqui da melhor forma possível. Chegando aqui reforçamos as análises, acompanhamos os materiais. 
Rodriggo: Fazemos o controle da auditoria de ponta a ponta de nossa cadeia produtiva. Somos certificados ISO 9000 há cerca de 20 anos e cobramos esses padrões do mercado, tanto de nossos fornecedores nacionais quanto internacionais e ainda temos critérios para o padrão de qualidade Basile Química que muitas vezes são acima do padrão das normas ISO 9000 e cobramos isso de toda nossa cadeia produtiva. Não só internamente, mas de todos nossos fornecedores. 
Renato: Temos repetibilidade de qualidade e estrutura para isso. No Brasil há fabricantes de máster que não têm. Todo o material que entra na empresa, seja uma resina da Braskem, um produto importado da China, um óleo da Petrobras, vem com certificado, mas são reanalisados e têm a qualidade confirmada aqui dentro. Nossos produtos vão com o nome Basile Química embaixo.
Rodriggo: A qualidade que vendemos é a qualidade Basile Química. Asseguramos a qualidade de todos os produtos. É uma garantia que damos. E respondemos por ela. 

A auditoria é feita com todos os fornecedores, sejam daqui ou da China?
Rodriggo
: Sim, esse é um grande diferencial da empresa. Hoje uma parcela expressiva de nossas vendas é advinda de produto importado e uma diferença da Basile é que há mais de 15 anos o corpo técnico da empresa é que visita nossos fornecedores e faz a nossa própria análise, auditoria do processo produtivo e do controle de qualidade deles. 

Os veículos elétricos abrem alguma nova oportunidade para a Basile Química?
Rodriggo
: Entendemos que é uma mera adaptação ao futuro e às tecnologias. Dentro da área em que trabalhamos será uma mudança natural da necessidade do nosso cliente. Se ele precisa fabricar uma peça adaptada para esses novos carros, acompanharemos com os produtos e as soluções necessárias para que o cliente consiga alcançar o seu objetivo.

É difícil acompanhar as novas exigências do mercado?
Rodriggo
: Até então viemos passando por uma série de inovações desde os padrões Euro 3,4 e 5 impostos pela Europa, por exemplo. O mercado de pneus tem migrado para essa plataforma de pneus verdes e como nós somos fornecedores de especialidades e matérias-primas, apenas adaptamos nossa gama de produtos para as necessidades do fabricante do artefato final. Não temos grande dificuldade. 

Como a Basile estruturou sua logística?
Rodriggo
: Acreditamos que através da terceirização nunca iríamos ter um padrão de qualidade Basile Química exigido. Tendo em vista esse desafio decidimos internalizar esse processo e fazer nós mesmos, que seria a melhor forma de garantir essa qualidade no serviço de logística e também controlar melhor os custos e as adversidades impostas pelo país como o aumento do preço dos combustíveis e tudo o mais. Uma das soluções que tivemos que trazer nos últimos tempos para se adequar aos preços dos combustíveis por conta da alta do petróleo e do dólar foi trazer um sistema de gestão informatizado que traça as melhores rotas de entrega. Então todos os nossos 12 caminhões já saem com uma rota otimizada por um software próprio de utilização.

A empresa tem ações voltadas para a comunidade local?
Rodriggo
: Por estarmos localizados perto do pico do Jaraguá temos uma comunidade indígena próxima e colaboramos com ela, entendendo que a área é naturalmente dela. Contribuímos com insumos para construção que eles necessitam para suas habitações.
Isso foi uma solicitação deles ou de vocês?
Renato: Partiu da gente por entendermos que é um dever nosso por estar nessa região. Também temos como parceiros os “Amigos do Bem”, que constroem cidades lá no Nordeste. Eles têm a cidade e fazem escolas, hospitais, escolas técnicas para a profissionalização da região. É um trabalho muito bonito que fazem em três regiões do Nordeste. 

A Basile mantém ciclos de palestras técnicas?
Rodriggo
: É uma das especialidades da casa. 
Renato: Infelizmente tivemos que interromper nosso ciclo de palestras durante a pandemia. As palestras técnicas são de certa forma uma apresentação de nossos produtos, onde levamos a apresentação onde o cliente está para que ele possa entender como irá trabalhar com nossos produtos e que benefícios terá usando nossos materiais. Palestras técnicas são cruciais nessa modalidade de palestras menores e mais distribuídas pelas diferentes regiões. A divulgação de nossos aceleradores de alta dispersão cresceu graças às palestras e hoje são produtos amplamente utilizados pelo mercado. 

Quais as perspectivas para 2022 e 2023? 
Renato
: Temos nossa meta traçada para 2022, prevendo crescimento, como sempre, acreditando que será um ano bom. Para 2023 estamos com novos projetos. Fizemos até uma reestruturação no departamento comercial, reforçando nosso time para atender o cliente com uma tranquilidade melhor. 

A evolução da Basile acompanhará o crescimento do PIB?
Rodriggo
: Sempre procuramos crescer internamente independente do mercado externo. Tanto que nas últimas recessões econômicas de 2015 para cá, tivemos um crescimento muito acima do PIB brasileiro em todos os anos. Mesmo nos anos de 2016 e 2017, que foram anos de muita instabilidade política, crescemos sempre na casa dos dois dígitos. Independentemente do cenário, fazemos a nossa lição de casa e quando os ventos sopram a nosso favor, conseguimos ter crescimentos ainda mais expressivos.

Uma mensagem para o futuro
Renato
: Sempre acreditamos em nosso negócio e no país. Se todo mundo acreditar mais no Brasil e não pensar no próprio umbigo, poderemos ter um país forte. Nós vemos como as empresas trabalham lá fora. “Faço pela minha empresa, faço pela minha comunidade, faço pelo meu país.” Quando você começa a se preocupar com o seu ambiente, com a questão ambiental, com os colaboradores, com treinamento dos colaboradores, trabalhar corretamente, sem sonegar impostos. Trabalhar pela sua empresa, pela sua comunidade, pelo seu país. Acreditamos muito no Brasil, que tem um potencial monstruoso. Por tudo o que o Brasil já passou, continua em pé, forte e trabalhando. Tem potencial para ser um dos melhores do mundo. Nós fazemos a nossa parte.
Rodriggo: Temos sempre que fazer o melhor que podemos. O estrangeiro sempre tende a colocar o Brasil na vala comum da América Latina, mas o que nós acreditamos enquanto Basile Química é que o Brasil é o melhor país da América Latina e temos todo o potencial para despontar e deixar de ser um país de terceiro mundo e virar uma referência como país de primeiro mundo localizado na América Latina.

“Se todo mundo acreditar mais no Brasil e não pensar no próprio umbigo, poderemos ter um país forte.”