O setor calçadista brasileiro, desde o ano passado, vem convivendo com uma situação desconfortável na balança comercial. Ao passo que as exportações vêm em queda, a entrada de calçados estrangeiros, especialmente provenientes da Ásia, é cada vez maior.
Dados elaborados pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) apontam que as exportações do setor caíram no primeiro trimestre. Nos três meses, foram embarcados 27,65 milhões de pares, que geraram US$ 253,4 milhões, quedas tanto em volume (-28%) quanto em receita (-22,8%) em relação ao mesmo período do ano passado. Segregando apenas o mês de março, a exportação somou 9,27 milhões de pares e US$ 83,73 milhões, quedas de 20,5% e 22,9%, respectivamente, ante o mesmo mês de 2023.
Já as importações, no mesmo período, cresceram. Entraram no Brasil 10,32 milhões de pares por US$ 125,44 milhões, incrementos de 4,4% em volume e de 12% em receita em relação ao mesmo período de 2023. Segregando apenas o mês de março, as importações somaram 3,4 milhões de pares e US$ 34,86 milhões, aumentos de 49,7% e 38,4%, respectivamente, ante mesmo mês de 2023.
O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, destaca que seguem influenciando os resultados a queda dos embarques para os Estados Unidos e países da América Latina, historicamente destinos importantes do calçado nacional. “Ao mesmo tempo, os asiáticos vêm ganhando espaço nesses países”, conta. Segundo ele, apesar de a queda nos embarques para os Estados Unidos ser menos intensa do que em meses anteriores, ainda existem dificuldades com relação ao consumo interno norte-americano. “Porém, o nosso principal revés tem sido na Argentina, nosso segundo mercado internacional”, avalia o dirigente.
Destinos
Nos primeiros três meses do ano, o principal destino dos calçados verde-amarelos foi os Estados Unidos. Para lá, foram embarcados 2,66 milhões de pares por US$ 54,57 milhões, quedas de 8,8% em volume e de 4% em receita na comparação com igual intervalo de 2023.
O segundo destino do calçado, no trimestre, foi a Argentina. No período, os hermanos importaram 2 milhões de pares por US$ 41,3 milhões, quedas de 38,2% em volume e de 25,4% em receita no comparativo com o mesmo ínterim do ano passado.
A Espanha foi o terceiro destino no período. Para lá, foram embarcados 4 milhões de pares, que geraram US$ 12,3 milhões, quedas de 30,6% e 30,8%, respectivamente, ante mesmo intervalo de 2023.
Estados
O principal estado de origem das exportações seguiu sendo o Rio Grande do Sul. No primeiro trimestre, saíram das fábricas gaúchas 8 milhões de pares por US$ 122,63 milhões, quedas de 15% em volume e de 12,4% em receita no comparativo com o mesmo período de 2023.
Com quedas de 24,34% em volume e de 27% em receita, o Ceará também viu suas exportações caírem nos primeiros meses do ano. No trimestre, partiram das fábricas cearenses rumo ao exterior 9,9 milhões de pares por US$ 60,93 milhões.
Fechando o pódio de origens das exportações apareceu São Paulo, de onde foram embarcados 1,2 milhão de pares, que geraram US$ 19,7 milhões no primeiro trimestre do ano. As quedas, em relação ao período correspondente de 2023, foram de 42,2% em volume e de 35,4% em receita.
Invasão asiática
No trimestre, a principal origem dos produtos importados foi o Vietnã, com 2,86 milhões de pares e US$ 59,6 milhões, aumentos de 19% em volume e de 7% em receita no comparativo com o mesmo período do ano passado. A China foi a segunda origem, com 1,63 milhão de pares e US$ 3,62 milhões, incremento de 27,3% em volume e queda de 24,3% em receita; e a Indonésia a terceira origem, com 495 mil pares e US$ 8,73 milhões, incrementos significativos de 416% em volume e de 379% em receita. Além da trinca de asiáticos, chamou a atenção da Abicalçados o crescimento de países asiáticos Camboja e Mianmar, que triplicaram suas exportações de calçados para o Brasil no mesmo período. “É um ponto de atenção, que indica que a produção pode estar mudando intra Ásia”, comenta Ferreira.
Em partes - cabedais, saltos, solados, palmilhas etc -, as importações do trimestre somaram US$ 10,9 milhões, 52% mais do que no mesmo período do ano passado. As principais origens foram China, Paraguai e Estados Unidos.