01/04/2019 | Por: Pedro Damian

Entrevista

Dan Ioschpe - Presidente do Sindipeças e da Abipeças.

A indústria brasileira de autopeças faz sua lição de casa.


Nesta entrevista para Borracha Atual ele comenta os atuais desafios do setor, as expectativas com os novos rumos da economia, com o Rota 2030 e fala sobre como foi o mercado em 2018.

Borracha Atual: Quais as perspectivas para 2019 da indústria brasileira de autopeças?

Dan Ioschpe: O Sindipeças estima que 2019 será mais um ano com crescimento da venda de veículos no Brasil. Já a exportação de veículos será desafiadora por conta das expectativas negativas com o mercado argentino, o principal destino da exportação brasileira de veículos. Ainda assim estimamos que haverá crescimento da produção nacional de veículos, com impacto positivo para o setor de autopeças.

Nesse cenário de continuada recuperação da atividade a partir de 2017, após a imensa redução experimentada entre 2014 e 2016, o Sindipeças segue trabalhando para que haja a melhoria contínua da competitividade da indústria de autopeças brasileira e sua inserção cada vez maior no vasto mercado automotivo global. Para isso, é fundamental o estímulo à inovação, ao treinamento e à participação em feiras setoriais ao redor do mundo. Iniciativas como o Inova Sindipeças, o Instituto Sindipeças de Educação Corporativa e o Brasil Auto Parts são bons exemplo da nossa atuação.

Outra importante ação do Sindipeças em 2019 é o Encontro da Indústria de Autopeças, que ocorrerá no dia 22 de abril, em São Paulo, no mesmo local e na véspera da abertura ao público da Automec. Nesse encontro, o setor de autopeças será debatido com exclusividade em seus diversos aspectos, com ênfase nas oportunidades de crescimento e internacionalização, mas também nos desafios e na necessidade de inovação para acompanhar as mudanças de métodos de produção, características dos veículos e hábitos de consumo enfrentados pela indústria automotiva mundial.

“Integrantes da mesma cadeia de produção, montadoras e fabricantes de autopeças precisam caminhar juntos.”

Como está a relação das montadoras com os fabricantes de autopeças?

Integrantes da mesma cadeia de produção, montadoras e fabricantes de autopeças precisam caminhar juntos. Eventualmente há divergências de natureza comercial, o que é normal.

E a relação das autopeças com os fornecedores de Matérias-Primas como borracha, plástico e aço?

Também devemos caminhar juntos.

O fornecimento de sistemas prontos para as montadoras é uma tendência?

Sim, uma tendência que vem ganhando força há muitos anos. E que deve seguir avançando com a necessidade do elo superior da cadeia de alocar da melhor forma possível os seus recursos, possibilitando a incorporação de atividades pelo elo subsequente.

Como a importação de autopeças afeta as autopeças produzidas no Brasil?

A importação é um movimento saudável, assim como as exportações. É uma via de duas mãos. Quanto maior a participação dessas atividades na atividade total do setor, maior será a sua vitalidade.

Como está o nível tecnológico das autopeças brasileiras?

A indústria brasileira de autopeças tem feito sua lição de casa. E o Sindipeças tem feito a sua parte também. Bom exemplo é nosso programa Inova Sindipeças, criado para despertar a cultura da inovação, auxiliar no aumento da competitividade e buscar a inserção de nosso setor nas cadeias globais de valor. Uma de nossas metas é oferecer às empresas associadas oportunidades de ter contato com a inovação em várias frentes, como o conjunto de soluções ligadas à indústria 4.0. Em maio, vários fabricantes  participarão de visitas técnicas a Stuttgart, na Alemanha, numa parceria do Sindipeças com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha.

“Uma de nossas metas é oferecer às empresas associadas oportunidades de ter contato com a inovação.”

Nesse sentido, a parceria entre o Sindipeças e o Apex-Brasil pode ser um fator alavancador da qualidade das peças brasileiras? Do que consiste a parceria?

Sem dúvida. O projeto Brasil Auto Parts – Trusted Partners, parceria entre nossa entidade e a Apex-Brasil, foi criado com a missão de promover esforços de internacionalização do setor e fomentar a formação de parcerias estratégicas entre empresas brasileiras e estrangeiras por meio de atividades estruturadas em quatro pilares:

  • Promoção comercial
  • Inteligência comercial
  • Capacitação
  • Atração de investimentos estrangeiros

Exportações de autopeças. Quais os mercados de destino? Somos competitivos?

Somos sim competitivos, embora sempre haja ajustes a fazer. No Relatório da Balança Comercial pode-se ver a lista de países de destino de nossas exportações de autopeças em 2018: https://www.sindipecas.org.br/sindiEconomia/2019/BCA_JAN19.pdf.

Como estão as relações com o mercado argentino?

A Argentina tem ocupado há anos o primeiro lugar na lista de destinos de nossas exportações.

“Somos sim competitivos, embora sempre haja ajustes a fazer.”

A qualificação da mão de obra nas autopeças está acompanhando os padrões internacionais?

Essa é outra área fundamental para o Sindipeças, por meio do Instituto Sindipeças de Educação Corporativa. Os mais de noventa cursos oferecidos estão divididos em quatro áreas de conhecimento: Gestão de Mercado; Gestão de Negócios; Gestão de Pessoas; Inovação e Sustentabilidade; e Manufatura e Supply Chain.

O veículo híbrido e o elétrico afetarão muito a produção tradicional de autopeças?

O setor automotivo enfrenta mundialmente profundas transformações, tanto na arquitetura dos veículos quanto na sua forma de consumo, incluindo aspectos como eletrificação, autonomia e não propriedade. O Brasil, seguramente, não ficará à parte desse processo. Justamente para saber quais são os desafios para o setor de autopeças, especificamente, o Sindipeças vai promover o Encontro da Indústria de Autopeças, em São Paulo, no dia 22 de abril. Presidentes de montadoras, de empresas de autopeças e das associações de fabricantes de autopeças do México e da Argentina, além de outros especialistas no tema, brasileiros e estrangeiros, discutirão oportunidades de crescimento e internacionalização da indústria de autopeças, além de apontar os caminhos para sua perenidade. Em seguida ao programa, às 18h, haverá no mesmo local, o São Paulo Expo Center, a solenidade de abertura da 14ª edição da Automec – Feira Internacional de Autopeças, Equipamentos e Serviços.

Como está o desenvolvimento dos fabricantes de autopeças para atender às novas demandas dos novos veículos?

Esse desenvolvimento ocorre em nossos associados. Do ponto de vista setorial, a discussão que promoveremos pretende responder esse questionamento e mostrar caminhos.

Quais os benefícios ou incentivos o Rota 2030 trará para o setor de autopeças?

O Rota 2030 é um marco regulatório muito importante para a indústria automotiva brasileira por estabelecer regras para os veículos comercializados no Brasil, feitos aqui ou importados. Esse regramento reduz o gap do Brasil em relação aos maiores mercados mundiais. Os principais atrativos são, de forma resumida, a visão de curto, médio e longo prazos; o estabelecimento de regras relativas a emissões, segurança e eficiência energética; a preocupação com o desenvolvimento da cadeia de fornecedores; e o incentivo à realização de PD&I por parte das autopeças.

Como foi o balanço de 2018 para o setor?

Os anos de 2017 e 2018 foram períodos de recuperação para nosso setor, depois de ter enfrentado com muita resiliência a pior crise de sua história. Nossos indicadores podem ser consultados em: https://www.sindipecas.org.br/area-atuacao/?co=s&a=autopecas.

 

Dan Ioschpe é presidente do Conselho de Administração do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) e da Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças). É, desde abril de 2014, presidente do Conselho de Administração da Iochpe-Maxion, tendo sido anteriormente, de 1998 a 2014, presidente da empresa. Também preside, desde junho de 2017, o Fórum das Empresas Transnacionais Brasileiras (FET) da Confederação Nacional da Indústria (CNI). É ainda membro do Conselho de Administração das empresas WEG, Cosan, Profarma, BRF e Marcopolo.

Nasceu em Porto Alegre (RS), em 1965. Graduou-se em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e cursou pós-graduação em marketing na ESPM de São Paulo e o MBA na Tuck School, Dartmouth College, nos Estados Unidos.