Os principais índices de volume dos produtos químicos de uso industrial tiveram resultados negativos no 1º bimestre de 2022 com relação ao mesmo período do ano anterior. As vendas internas diminuíram 10,06% e a demanda local, medida pelo consumo aparente nacional (produção + importação – exportação) caiu 6,4%. Por outro lado, a valorização de quase 8% do Real 8% entre janeiro e fevereiro fez com as importações recuassem 23,4%, refletindo diretamente na elevação das exportações e do índice de utilização da capacidade instalada, respectivamente +3,1% e 78%. Ainda nos dois primeiros meses de 2022, a produção teve alta de 1,51% sobre igual período do ano passado, alavancada pelos grupos cloro e álcalis (+29,58%), intermediários para fertilizantes (+19,20%) e intermediários para plásticos (+19,82%).
No que se refere aos preços, o segmento de químicos apresentou deflação nominal de 3,16%, conforme resultados do IGP Abiquim-FIPE, no acumulado do primeiro bimestre do ano, após alta, também nominal, de 62,3% entre janeiro e dezembro de 2021.
Segundo Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, não se pode deixar de mencionar as preocupações advindas do conflito entre Rússia e Ucrânia e os seus efeitos adversos no que diz respeito à disponibilidade de gás russo para o mercado europeu e de intermediários para fertilizantes para o suprimento da agricultura nacional. “Para além da alta nos preços das commodities - o barril de petróleo tipo Brent foi vendido a US$ 112,5 o barril no final de fevereiro, a nafta petroquímica a US$ 857 a tonelada e o gás natural saltou para mais de US$ 30/MMBTU na Europa -, há perspectivas de fortes impactos nos preços dos produtos químicos no mercado internacional para os próximos meses e nos custos relacionados à logística internacional. No Brasil, pela necessidade de maior despacho das termelétricas movidas a gás e com o aumento do GNL importado houve impacto também nas tarifas de energia elétrica.”
Tais fatores, acrescenta a executiva, têm pressionado a inflação doméstica, o que levou o Comitê de Política Monetária (Copom) a elevar a taxa básica de juros da economia para o patamar de 11,75%. O IPCA-IBGE ficou em +1,01% em fevereiro de 2022, acumulando alta de 10,54% nos últimos doze meses (vale ressaltar que a meta de inflação para 2022 é de 3,5%, tendo sido definidos como limites inferior e superior as taxas de 2,0% e de 5,0%, respectivamente).
“O momento pede uma urgente reflexão. Além de todas essas questões, a química especificamente corre o risco de perder o Regime Especial da Indústria Química (REIQ). Caso isso ocorra, a ausência deste incentivo intensificará a falta de competividade da produção local, fator que já levou à descontinuidade de diversas linhas de produção nos últimos anos e, consequentemente a um nível elevado de importações e a dependência brasileira em setores tão estratégicos, como o agronegócio. Não só em relação à pandemia, mas também por conta das restrições que estão sendo impostas à Rússia, o País não pode alimentar essa vulnerabilidade. Não se pode, sobretudo, imaginar que a química brasileira será sempre a química do futuro, das oportunidades que não são alcançadas. É preciso pensar em como crescer de forma sustentada, especialmente nos segmentos em que há vocação natural e vantagens comparativas”, alerta a diretora da Abiquim.