Com base no crescimento do consumo doméstico de calçados, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) revisou a projeção de crescimento da produção do setor para 2024. Agora, o incremento deve ficar entre 1,9% e 3,2% sobre 2023, o que significa uma produção de 882 milhões a 893 milhões de pares. A projeção foi divulgada durante o Análise de Cenários, evento on-line realizado no dia 9 de outubro e conduzido pela coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, e pelo doutor em Economia Marcos Lélis.
Lélis abriu o evento traçando um panorama da economia mundial e brasileira. Com a queda de juros no âmbito internacional, principalmente nos Estados Unidos e no Japão, ele citou a melhora no ambiente de negócios. No segundo trimestre, as economias chinesa, estadunidense e da zona do Euro cresceram 0,7%, 0,7% e 0,3%, respectivamente. Por outro lado, um importante mercado para o calçado brasileiro no exterior segue com dificuldades. A Argentina, no segundo trimestre, viu sua economia despencar 1,7%, chegando ao terceiro trimestre consecutivo de queda.
Para 2024, a projeção do FMI aponta que a economia mundial deve crescer 3,2%, com impulso relevante da China (+5%), Estados Unidos (+2,6%) e da Zona do Euro (+0,9%). Já a economia brasileira deve registrar incremento de 2,5%. “Tratando do PIB brasileiro, crescemos 3,3% no segundo trimestre, número acima do esperado. O resultado foi impactado pela associação entre os aumentos do consumo das famílias e dos investimentos”, ressaltou Lélis, acrescentando que a demanda interna tem crescido mais do que o PIB.
Segundo o doutor em Economia, o crescimento da demanda brasileira é resultado da combinação entre a elevação da média dos salários reais (hoje em R$ 3.110) e nas taxas de desemprego (hoje em 6,8%, a menor nos últimos 12 anos). “Por outro lado, seguimos com problemas com relação ao custo do crédito, ainda muito elevado em função dos aumentos nas taxas básicas de juros. O fato reflete no endividamento ainda alto das famílias brasileiras, com uma taxa de 78%”, explicou. Segundo ele, as constantes elevações da taxa básica de juros podem “travar” o crescimento brasileiro.
Indústria calçadista
Priscila, que apresentou a segunda parte do Análise de Cenários, discorreu sobre a situação da indústria calçadista brasileira, que hoje enfrenta dificuldades no mercado internacional e uma melhora significativa na demanda doméstica. A economista destacou a forte concorrência chinesa neste cenário, com o país avançando no mercado após dois anos de restrições em função das políticas de Covid Zero e elevados custos de frete. Segundo ela, entre janeiro e julho, as exportações chinesas avançaram 3,9%, principalmente em mercados cativos do calçado verde-amarelo, como países da América do Sul e da América do Norte. “O Brasil vem perdendo participação para os asiáticos no mercado internacional, principalmente para Vietnã, Indonésia e China”, comentou. Entre janeiro e setembro de 2024, as exportações brasileiras caíram 21%, em pares.
No quadro traçado, Priscila projetou uma queda de 14,5% a 19,2% na exportação de 2024, em pares. Também em pares, a economista prevê uma maior estabilidade no mercado internacional ao longo de 2025, com uma banda que vai de 1,9% de queda a 0,2% de crescimento nos embarques ao longo do próximo ano.
Recuperação
Se nas exportações o quadro segue difícil para a indústria nacional, a realidade muda no mercado doméstico, que historicamente absorve mais de 85% das vendas do setor calçadista brasileiro. Com a produção de calçados tendo crescido 4,4% até agosto, a indústria deve encerrar 2024 produzindo em patamares semelhantes aos da pré-pandemia, em 2019. “Depois de cinco anos, a indústria calçadista parece recuperar as perdas da pandemia de Covid”, informou Priscila.
Neste contexto, o crescimento da atividade, em 2025, deve estabilizar, alcançando índices entre 1,1% e 1,9% na produção, o que significa 897 milhões e 904 milhões de pares produzidos, sendo que mais de 89% dessa produção deve ser destinada ao mercado interno brasileiro.
Além da apresentação on-line, o Análise de Cenários foi realizado fisicamente nos polos calçadistas paulistas de Franca, Jaú e Birigui. O evento foi uma realização da Abicalçados com patrocínio do grupo FCC e apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Governo Federal, Sindifranca, Sindicalçados Jaú e Sinbi.
Os principais dados e projeções do Análise de Cenários:
Produção de calçados em pares (consolidada): +4,4% de janeiro a agosto no comparativo com mesmo período de 2023;
Exportações de calçados em pares (consolidada): -21% de janeiro a setembro no comparativo com mesmo período de 2023;
Consumo aparente em pares (consolidado): +9,4% de janeiro a setembro no comparativo com mesmo período de 2023;
Produção de calçados 2024 em pares (projeção): Entre +1,9% e +3,2% (882 milhões de pares e 893 milhões de pares);
Produção de calçados 2025 em pares (projeção): Entre +1,1% e +1,9% (897 milhões de pares e 904 milhões de pares);
Exportações de calçados 2024 em pares (projeção): Entre -19,2% e -14,5% (95,6 milhões de pares e 101,2 milhões de pares);
Exportações de calçados 2025 em pares (projeção): Entre -1,9% e +0,2% (96,5 milhões de pares e 98,6 milhões de pares).
Exportações de calçados param de cair em setembro
Dados elaborados pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) apontam que as exportações de calçados alcançaram 7,8 milhões de pares e US$ 81,3 milhões em setembro, quedas de 7% em volume e de 3,3% em receita no comparativo com o mesmo mês de 2023. Trata-se da menor queda registrada desde o início do ano, o que aponta para um arrefecimento das taxas negativas. No acumulado dos nove meses do ano, as exportações somaram 71,64 milhões de pares e US$ 736,1 milhões, quedas tanto em volume (-21%) quanto em receita (-18,8%) em relação ao mesmo ínterim de 2023.
O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, destaca que o movimento já era esperado pela entidade, diante da baixa base de comparação e da gradual recuperação das importações estadunidenses, que cresceram 4,2% nos sete primeiros meses do ano. O destaque do mês de setembro, segundo Ferreira, foram as recuperações dos embarques para a Argentina e para os Estados Unidos, os principais destinos do produto brasileiro no exterior. “Com o arrefecimento da queda nos últimos meses, devemos fechar o ano com um revés entre 14% e 19%”, projeta Ferreira.
Em setembro, a Argentina ultrapassou os Estados Unidos e foi o principal destino do calçado brasileiro no exterior. No mês nove, as exportações para os hermanos somaram 2,18 milhões de pares e US$ 25,62 milhões, altas tanto em volume (+112,5%) quanto em receita (+48%) em relação ao mesmo mês de 2023. No acumulado dos nove meses, a Argentina soma a importação de 9 milhões de pares e US$ 154,3 milhões, quedas de 23,8% e 16,7%, respectivamente, ante o mesmo intervalo do ano passado.
No mês nove, as exportações brasileiras para os Estados Unidos somaram 740,47 mil pares e US$ 17,22 milhões, altas tanto em volume (+31,1%) quanto em receita (+32%) em relação a setembro de 2023. No acumulado dos nove meses, as exportações para os Estados Unidos somaram 7,7 milhões de pares e US$ 165 milhões, quedas de 2,7% e 5,2%, respectivamente, no comparativo com o mesmo período do ano passado.
O Paraguai foi o terceiro destino das exportações brasileiras de calçados. No mês de setembro, foram embarcados ao país vizinho 520,4 mil pares por US$ 4 milhões, quedas de 42% e 24,5%, respectivamente, ante setembro de 2023. No acumulado do ano, as exportações para o Paraguai somaram 6 milhões de pares e US$ 32,3 milhões, quedas tanto em volume (-21,8%) quanto em receita (-14,5%) em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
O principal estado exportador de calçados do Brasil segue sendo o Rio Grande do Sul, que em setembro embarcou 2,9 milhões de pares por US$ 42,43 milhões, incrementos tanto em volume (+9,5%) quanto em receita (+7,4%) em relação ao mesmo mês de 2023. No acumulado do ano, as fábricas gaúchas somam o embarque de 24,14 milhões de pares por US$ 370,57 milhões, quedas de 11,5% e 11,4%, respectivamente, ante o mesmo período do ano passado.
Registrando forte queda nas exportações em setembro, o Ceará segue sendo o segundo exportador de calçados do Brasil. No mês nove, partiram das fábricas cearenses 1,87 milhão de pares por US$ 10,9 milhões, quedas de 18,3% e 31,6%, respectivamente, ante o mesmo mês do ano passado. No acumulado dos nove meses, as exportações do Ceará somaram 21,55 milhões de pares e US$ 145,33 milhões, quedas tanto em volume (-20,8%) quanto em receita (-27,7%) em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
No terceiro posto entre os exportadores brasileiros de calçados apareceu São Paulo, que em setembro embarcou 579 mil pares por US$ 8,83 milhões, queda de 4% em volume e incremento de 9,8% em receita no comparativo com o mês nove de 2023. No acumulado do ano, as exportações paulistas somaram 4,3 milhões de pares e US$ 66,32 milhões, quedas tanto em volume (-27,2%) quanto em receita (-22%) em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
As importações de calçados de setembro registraram a maior alta em 2024. No mês, entraram no Brasil 3,22 milhões de pares por US$ 50,8 milhões, incrementos tanto em volume (+79%) quanto em receita (+61,6%) em relação a setembro de 2023. No acumulado dos nove meses do ano, as importações somaram 27 milhões de pares e US$ 351,25 milhões, incrementos de 17,3% e 1%, respectivamente, ante o mesmo ínterim do ano passado.
As principais origens das importações seguem sendo os países asiáticos, com destaque para o Vietnã e Indonésia. Em setembro, as importações do Vietnã somaram 1,25 milhão de pares e US$ 24,54 milhões, incrementos tanto em volume (+70,3%) quanto em receita (+54%) em relação ao mesmo mês de 2023. No acumulado de 2024, as importações do Vietnã chegaram a 8,94 milhões de pares e US$ 166,45 milhões, incremento de 17% em volume e queda de 2,4% em receita no comparativo com o período correspondente do ano passado.
As importações de calçados da Indonésia, em setembro, somaram 1 milhão de pares e US$ 15,6 milhões, com significativos incrementos de 285% e 160%, respectivamente, ante o mesmo mês de 2023. Já no acumulado do ano, as importações da Indonésia somaram 4,7 milhões de pares e US$ 77 milhões, incrementos tanto em volume (+44%) quanto em receita (+17,5%) em relação ao mesmo período de 2023.
Fechando o ranking das origens do calçado importado pelo Brasil aparece a China, que em setembro embarcou para o Brasil 187,55 mil pares por US$ 2,84 milhões, quedas de 40% e 5,7%, respectivamente, ante o mesmo mês de 2023. No acumulado dos nove meses, entraram no Brasil 7,94 milhões de pares chineses, pelos quais foram pagos US$ 30,17 milhões, quedas de 6% e 23%, respectivamente, no comparativo com o mesmo intervalo do ano passado.
Em partes - cabedais, saltos, solados, palmilhas etc -, as importações de janeiro a setembro somaram US$ 26,7 milhões, 27,7% mais do que no mesmo período do ano passado. As principais origens foram China, Paraguai e Estados Unidos.