O mercado de motocicletas elétricas vive um salto inédito no Brasil. No primeiro trimestre de 2025, foram licenciadas 3.452 unidades, mais que o dobro do registrado no mesmo período do ano passado, quando 1.686 unidades foram emplacadas, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Se, por um lado, o crescimento pode ganhar ainda mais impulso com a entrada de marcas tradicionais do setor, por outro acende o alerta sobre segurança no trânsito, afinal, a tecnologia exige novas práticas de pilotagem e maior conscientização dos condutores.
Segundo Diogo Figueiredo, gerente de Capacitação e Treinamentos do CEPA, os riscos estão ligados a características próprias das motos elétricas. "O torque imediato e a aceleração linear facilitam arrancadas fortes, enquanto o silêncio em baixas velocidades reduz a percepção por pedestres e outros motoristas. Isso aumenta as chances de incidentes em áreas urbanas, especialmente atropelamentos", explica.
Outro ponto de atenção é a frenagem regenerativa, que altera a sensação de desaceleração e pode surpreender condutores sem experiência. "Treinar frenagens progressivas e antecipar manobras é fundamental para evitar travamentos e desequilíbrios. O veículo responde diferente da combustão, e o piloto precisa se adaptar", completa Figueiredo.
Para o especialista, a rápida popularização das motos elétricas precisa ser acompanhada de medidas de conscientização, regulamentação e treinamento. Hoje, a legislação brasileira já enquadra ciclomotores e motocicletas elétricas nas mesmas categorias de habilitação (A e ACC), mas o desafio está em preparar os condutores para as particularidades desse tipo de veículo.
Na prática, o CEPA recomenda que quem pensa em adotar uma moto elétrica leve em conta fatores como perfil de uso, autonomia real, rede de assistência e condições de recarga. Também sugere treinos de adaptação: arrancadas suaves, sinalização antecipada, planejamento de autonomia e prática de frenagens em diferentes condições de pista. "Não é zero manutenção: pneus, freios e suspensão continuam críticos. Já a bateria exige cuidados de recarga e armazenamento, sempre em pontos seguros e com equipamentos adequados", orienta o especialista.
Apesar dos desafios, o futuro é promissor. Marcas ampliam a oferta de modelos no Brasil, e os preços tendem a se tornar mais acessíveis. Mas, para Figueiredo, a transição só será segura se vier acompanhada de mudança cultural no trânsito. "Mais do que uma inovação tecnológica, estamos diante de uma transformação de hábitos. Preparar os condutores é tão importante quanto oferecer veículos mais modernos e sustentáveis", conclui.